Berê

Precisei de um tempo pra mim hoje, agora, nesse minuto. Tô com tédio de não dormir no meu quarto, de ensaiar mudanças que nunca acontecem, de ensaiar vontades que eu não mato e conversas que eu não vou ter.
Tô cansada de imaginar passeios com amigos que eu não vou ver, compartilhando segredos que... Bom, eu não tenho. Ou eu posso até ter, de fato mas, se é segredo eu não vou contar! Eu só confio em mim.
Se me cai cabelo o suficiente pra entupir o meu ralo e em todos esse tempo eu não fiquei careca, não tem como desistir. Sempre pode crescer uns fios novos, sempre pode e vai ser diferente se a gente não tiver preguiça de fim.
Mas enquanto se tratar de mim, você pode ir. E vai embora com essa minha mania de falar tanto “a gente”. De achar que sempre tem mais de insistir e se machucar e se doer e se chorar. De achar por si só. De se pensar demais e só pensar, quando tudo que eu queria falar pode ser uma expressão tão corriqueira quanto: foda-se. Mas é, ou é, só me esquece mesmo e me deixa com essa minha paz que inventei, minha curiosidade por qualquer outra acabou. Deixa eu me amar, sozinha, como eu sempre fiz. Deixa que na hora eu descubro mais uma forma de errar e ver que a qualquer momento eu já vou ter gasto todas as minhas respostas ensaiadas. Me deixa. Mesmo que eu seja pra você.


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título por Rodolfo Lorenzi e Marina Fernandes, meus entusiastas inspiradores das manhãs. CLAP

Durma bem

Mais uma vez eu sonhei, e acordei cheia de vontades. Aí eu preferi voltar a dormir, sempre tenho esperança de voltar pro mesmo sonho e por um triz eu não voltei. Te vi assim como eu te vejo mil vezes. E de todas as vezes que eu planejo a minha vida inteira eu durmo no meio e me pergunto se vai ser mesmo assim, se eu vou dormir no meio dela, o que não é completamente impossível, mas faço um esforço pra não acontecer.
Se bem que se fosse só dormir ia ser bem mais fácil, porque dormindo eu sou leve, mesmo que seja só um sonho. Poder ver as coisas mais estranhas, e ter a maior coragem do mundo, mesmo que seja só um sonho, acontece comigo e funciona, afinal só eu tenho que ter certeza das minhas experiências.
Provar as coisas não faz a minha, ficar pensando mil vezes também não, sempre da mais certo quando a gente não pensa disso eu tenho certeza, mas eu prefiro fingir que não. Prefiro pensar sim e às vezes até sofrer um pouco mais porque eu tenho medo de me perder de mim, e sonhando eu só dou voltas e no primeiro susto eu posso parar com as voltas, e vestir o uniforme.
Pode vir o que for, eu não me abalo, posso até te perder de vista, perder a inspiração, perder a linha ou sei lá, meu maior medo é me perder de mim por isso te prefiro nos meus sonhos, tenho certeza que teria medo da minha realidade se não sempre tivesse sido sonho.