EUA desaconselham viagem ao Guarujá

Esse texto era pra ser um semanal. Desculpa Francisco, mas acho que passou da hora de você saber que tem certa parcela de culpa na minha falta de vergonha de escrever para mais pessoas além dos meus eus. E juro que semana que vem entrego dois, pode ser até um com a minha opinião sobre essa mesma notícia, a opinião que a galera do vestibular vai querer ouvir, essa que eu ensaio e ensaio pra escrever porque quando eu sei que é você quem vai ler gosto de fugir da mesmice pra te tirar do tédio, do lugar comum. Dessa vala ridícula de adolescentes que não conseguem pensar em mais nada além da superfície. São todos pombos Francisco, não liga pra eles não.
Estava até esquecendo que esse texto não é sobre você. Com licença, por favor? Esse é sobre mim, mais uma vez. Sobre como eu me sinto, mais uma vez. Já que todo mundo me acha tão foda por não sentir, esse é sobre como eu me sinto ao não-sentir. Pra convencer a mim mesma de que se eu não fosse eu, ainda sim me acharia foda. Até porque eu nunca nem fui ao Guarujá. E nem tenho vontade, sério.
Acho que é uma das poucas vezes que eu perdi as palavras assim na primeira tentativa de fazer um semanal, ê Francisco, nem pra me ouvir direito, só porque meu pau é maior que o seu. Mas com você também aprendi a tentar de novo, e fazer um não-semanal.
Esse é sobre mim e o prendedor de cabelo que caiu dentro da minha impressora esses dias, e aí não tinha como imprimir notícia. Aí por culpa sua mais dessa vez, porque tudo que acontece no mundo é culpa sua, tive que comprar um jornal. Comprei aquele que é o meu favorito pelo menos, e merece até outro texto só pra te contar porque ele é o meu favorito. Acredita que eu consegui sozinha tirar o prendedor de dentro da impressora? Fiquei puta com você porque eu já tinha comprado o jornal e já tinha achado essa noticia e já tinha acontecido o que aconteceu, e você que aguente agora, porque esse texto é sobre mim.
Nunca tinha reparado em como aquela banca de jornal é organizada, acho que realmente aqueles baldes de estudantes que passam por lá não costumam comprar muitos jornais. Mentecaptos. Mas são todos pombos Francisco, eu não ligo pra eles, você também não deveria ligar. Melhor pra mim que achei super fácil meu jornal favorito e comprei com gosto! E com o gosto do soco que a minha mãe ia me dar se ela descobrisse que eu quebrei a impressora de novo, mas isso é detalhe. Segui pro meu banquinho, gosto tanto daquele banquinho. Aham, mais um texto outra hora pra te contar porque eu gosto tanto daquele banquinho. E aí eu já não estava mais sozinha.
Estávamos lá, ele, o jornal e eu. É sim, ele e eu porque eu decidi que não existe a gente. Mas ele é experiente, Francisco e sabe como me fazer pensar no a gente, vive me dando voltas, só que eu sou mais forte. E leio o jornal, toda semanal.
Por sua causa eu encontrei ele na rua, e ouvi aquela historinha que não sei porque raios ele insistiu em contar e eu fiquei com dó, de fato. Só que dó não é o melhor não-sentimento que se pode não-sentir quando a outra pessoa sente-não tanto ou o mesmo. Ainda mais nesse caso. Só que eu sou forte, e tinha um jornal.
Não acredito em acaso, mas nesse sim. Justamente o Guarujá, caramba. Se já não fosse, esse ia ficar sendo meu jornal favorito. Fiz ele ler a noticia inteira, afinal principalmente com os pais é preciso ter argumentos bons, aprendi com você Francisco! E realmente o Guarujá, olha, não tá lá um bom lugar pro pessoal ir não, ai eu tentei Francisco. Ai como eu tentei, juro. Conversei, olhei bem, disfarcei bem, mas não tem como ele e eu formarmos um a gente, definitivamente. Quando eu vi ele lendo jornal comigo imaginei que talvez dessa vez eu estivesse mesmo não-sentindo alguma coisa, e quase pensei em falar foda-se, deixa eu me achar uma mulherzinha mesmo. E ai ele me solta uma dessas “Olha pra mim lendo jornal aqui duas horas antes da aula começar, que ridículo, que coisa de nerd”. Você me salvou Francisco. O jornal por culpa sua me salvou. Obrigada por me deixar continuar acreditando que se eu não fosse eu, ainda sim me acharia foda.
Culpa sua Francisco, eu achar todo mundo meio pombo demais pra completar o meu a gente, foi o esforço que eu aprendi com você que me fez ficar querendo tanto mudar todo mundo que não sabe o que é esforço pro Guarujá.
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Francisco, se você não ler esse texto dessa vez eu desisto de escrever pra sempre. Também aprendi a ser dramática desse jeito com você. E quanto ao semanal, tavez na outra semana eu entregue tá?

Sério, eu sou mesmo

Já fui e já voltei. Fui e voltei tantas vezes que às vezes acho que quem já foi tão longe e já voltou ainda não saiu do lugar. Fui e voltei. Fui e não fui. Fui tanto e fui pouco. E mesmo tendo vergonha já fui mais ou menos. Já sou mais ou menos volta quando vou, já sou mais a ida se não tiver volta e jamais há volta se não tiver ida.
Fui o ser e o não ser em questão, pois na minha questão sou meu eu mais sido, o que sempre será e será mais sempre.
Sou. Eu sou, eu Sol, eu somo, eu surto, eu solo. Sou.
Eu sou minha parte do inteiro e o inteiro de cada uma das minhas partes. Sou todos os adjetivos, conceitos e preconceitos, sou tudo. Sou todas as suas conclusões, mas sou principalmente as minhas.
Tenho.
Tenho tudo de todos e todos que o ser deixar vir, mas venha o que for, o que é eu somo. O que sou sempre soma. Subtraio pouco, subtraio aquilo que ainda não estou pronta pra ser, pois tudo aquilo que fomos é aquilo que somos nós. Sou.