Chocolate concerta umbigo?

Queria estar na sexta série, conhecer quase nada do mundo e relaxar um pouco dessa minha vida de mil voltas sem mil idas. Mas se não der pra ser tudo, pode ser só relaxar mesmo. Até quando se quer muito da pra se contentar com pouco às vezes, confesso.
Tem dia que a felicidade pra mim é pão quente de padaria, com manteiga derretendo. Daqueles que cai casquinha e a gente come de pé perto da pia pra não sujar o chão, mas no final suja a roupa e fico com raiva do mundo inteiro. Porque afinal é mesmo uma porra de mundo injusto. Mesmo os seus maiores esforços pra abrir um sorriso naquele dia cinza que não abriu, têm uma força maior que coloca alguma coisa no seu caminho. Tem essa força que coloca uma aula cheia de números e Pitágoras no primeiro período, e não se contentando com isso coloca mais números nos outros quatro períodos, só de pirraça. Pra você reclamar muito, mesmo nem sabendo direito o que é injustiça. Pra você além de reclamar, comer muito chocolate e acordar cheia de espinha, e reclamar mais um pouquinho. Sabendo que você nem sabe o que é injustiça.
Porque afinal é mesmo uma porra de mundo injusto, e você sabe disso quando só você se sente honesto, bom, limpo e descolado o suficiente perto de todo o resto do mundo. Você sabe disso quando só o seu próprio umbigo importa e mesmo sabendo, ainda se considera muito honesto, muito bom, muito limpo e o mais descolado perto de todo o resto de mundo.
Pra concertar eu poderia colocar uma cueca por cima das calças e ter medo só de kriptonita, mas não dá. Porque é mesmo uma porra de mundo injusto. E não dando pra ser nada disso, poderia ao menos ser sexta feira? Me contento com pouco as vezes, confesso.
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Dedicado aos meus inglesinhos Thalita e Lucas.

Duas letras

Duas letras. Depois de dois anos. Adoro você por isso, adoro você. Quando me conformo com o seu fim eu escrevo, mesmo que nunca tenha começado, mesmo que ainda não tenha terminado de fato e papel passado eu escrevo. Jogo na minha própria cara uma milhão de vezes quanto eu poderia sofrer se eu tivesse prolongado, ou se eu tivesse deixado. Obrigada, por ser você quem me faz sofrer, de outro eu não sofreria nem aprenderia.
Obrigada por ver as pintinhas do meu rosto, e falar que eu acordo feia, que eu vou faço compras feia, que eu sei ser feia e linda ao mesmo tempo. Por falar que meio termo comigo não existe surtar é a minha especialidade. Por me perceber.
Se não tivesse surto não tinha como reconhecer a minha felicidade depois, preciso reconhecer. E digo, sou mãe mesmo. Cuido, adoto, dou beijinho antes de dormir e não por carinho, por uma necessidade extrema de cuidar e expelir esse meu ódio de ser cuidada, de sufocar expelindo meu ódio de ser sufocada. E aí eu aprendo que as pessoas querem ser cuidadas tanto quanto querem ser livres. Esse meio termo me deixa nervosa, e eu jogo tudo pro ar, aborto tudo de mim.
Depois que passa vem suas duas letras e ao invés de 8 escolho 80, te esqueço. Me esforço, leio você em todas as placas que passam por mim, mas eu esqueço. Mesmo que mais por fora do que por dentro. Ah, eu esqueço.