Pra não parecer que faz tanto

Ela voltou será que dava pra você voltar? Ela tá aí de novo, dando um novo fim pra aquela história tão parecida com a nossa, só não igual porque ela quando foi avisou que ia, deixou um bilhete, um luto real. Você não avisou que ia e foi, mas também não avisou que não ia voltar. Ela voltou, será que não dava mesmo pra você voltar?
Porque eu te espero. Porque quando não estou esperando por você estou esperando por mim, esse mim que foi ali saber o que era a vida e não voltou de vez nunca mais, mas apareço às vezes, e o que sou hoje chora tanto das histórias de quem eu era, mas também consola. Aparece pra vermos como estamos tão diferentes, como perdemos tanto de nós, será que meu nome é o mesmo? E o seu? Sei que precisa de mais do que querer, mas tô aqui vê se não tem um jeitinho de você voltar.
É que acho bem estranho passar de presente pra pendente, desaprendi a ser quem era sem te esperar. E não sei mais por quem espero, mas espero. Me esqueci de te deixar ir, escorrer por fim, pra um fim, a fim de me deixar. E quando soube que ela tinha voltado, ela quem mesmo? Não sei muito bem, mas quando soube achei que você poderia voltar também.
Volta e seca umas lágrimas do meu travesseiro, volta só pra me contar como foram essas suas férias de mim. E se logo depois você tiver vontade de ir de novo, tudo bem, só me avisa que vai pra eu não deixar a mesa arrumada de novo, pra eu não ficar aqui tentando parar o tempo pra não parecer que faz tanto. Pra eu parar de ver seus olhos em outros e enterra-los, pra eu parar de ver seus segredos em outros e engoli-los, pra eu parar de ver seus gestos, seus restos em mim.

Insight na sala de espera

É Valentine’s Day, bom isso não importa, mas é segunda-feira e adivinha só, eu tive um encontro! Um encontro de hora marcada com a minha dentista. Ela me conhece desde muito antes que você, ela fez por merecer pra ter um encontro comigo hoje. Ás 11:11 da manhã estava de jejum porque flúor me enjoa, estava fantasiada de vendedora de bíblia porque tive um domingo ruim, estava na sala de espera, esperando e penso muito que praticamente a vida toda é uma sala de espera, um cenário com cadeiras desconfortáveis, paredes em tom pastel, quadros com cópias de obras famosas aleatórias, revistas Caras muito velhas e uma recepcionista nojenta, aonde você espera por algo que já sabe mais ou menos como vai ser, mas mesmo assim sempre volta, porque é necessário, e além de tudo paga caro por isso, porque é necessário. Penso nisso desde que tinha seis anos e tive meu primeiro desmaio, na cadeira da sala de espera da minha dentista.
Penso muito em muitas coisas, e isso sou eu. Sou eu não por esse motivo, mas por ter tantos. E como quem quer dizer “É Hanna, não tá fácil pra ninguém. Tá difícil pra todo mundo” minha dentista me aplicou uma anestesia local fortíssima, ela sabe que sou do time que prefere não sentir nada nunca a sentir dor. Ela me conhece super melhor do que você. E não me entenda mal, não é que não goste de arriscar, só não gosto de dor, principalmente quando eu já sei como vou ser levada até ela.
E durante quatro horas fiquei em casa anestesiada e pensando em como seria ter sentido dor, perdendo os pedaços de sorvete de limão na boca, te respondendo coisas que eu não realmente queria dizer. Não são mentiras, mas minhas verdades soam mais mentirosas do que as minhas mentiras. Você sabe bem disso.
Minha dentista estava lá no meu primeiro desmaio, e por isso a sala de espera dela me faz pensar em como a gente espera demais as coisas. Esperei o final de semana passar pra tentar aparecer e te contar que sonhei com você de novo, durante uma noite inteira. E de tanto ensaiar e esperar chegar, esperar passar, você apareceu primeiro na segunda-feira como de costume, com um papinho furado que hoje, já depois de tanto tempo, mesmo sabendo que já sei, eu digo que gosto, me acostumei, eu espero por isso, sei que você paga caro e ainda assim volta, porque é necessário.